
A Medicina Interna é uma especialidade médica que avalia o doente adulto no seu todo, tendo em conta as relações entre todos órgãos e sistemas que compõe o ser humano.
É uma especialidade que se dedica maioritariamente a tratamentos “médicos” (não cirúrgicos), distingue-se da Medicina Geral e Familiar por ser exclusivamente dedicada a doentes adultos, por ser vocacionada para doentes com múltiplas patologias em simultâneo e por ser predominantemente hospitalar.
O Internista é um médico que dedica a sua atividade à pessoa como um todo e perante alguém com vários problemas clínicos (cardíacos, pulmonares, renais, cerebrais, metabólicos, etc…) é aquele que compreende todos esses problemas, que descodifica a sua inter-relação definindo prioridades e que, em conjunto com o doente, estabelece o plano de atuação mais adequado e eficiente, funcionando muitas vezes como alguém que coordena a atuação das várias especialidades.
Existem internistas dedicados às mais diversas áreas dentro e fora dos hospitais: Urgência, Emergência (Intra e Pré Hospitalar), Unidades de Cuidados Intermédios e Cuidados Intensivos, Unidades de AVC, Unidades de Insuficiência Cardíaca, Cuidados paliativos, Geriatria, Hepatologia, Diabetologia, Imunologistas, Oncologia, Consultores de Serviços Cirúrgicos, investigadores, administradores, etc…
Em suma, o internista corresponde a alguém que escuta o doente, que lhe dá tempo e atenção, que o trata com respeito e humanidade, que o informa adequadamente, que conhece as suas prioridades; alguém que se preocupa e que é exaustivo, mas ponderado tentando ser capaz de dar resposta à maioria dos problemas médicos.
Uma das principais áreas de atuação da Medicina Interna prende-se com a abordagem e avaliação do risco cardiovascular de maneira a reduzir ao máximo as suas consequências (Enfartes Agudos do Miocárdio, Acidentes Vasculares Cerebrais).
Definem-se como fatores de risco cardiovascular (FRCV) as condições que uma vez presentes num determinado doente condicionam um aumento na possibilidade de aparecimento de doenças cardiovasculares e/ou contribuem para o seu desenvolvimento.
Os fatores de risco cardiovascular podem ser classificados em dois tipos: modificáveis e não modificáveis.
Os modificáveis são aqueles em que, numa perspetiva de prevenção, podemos intervir e corrigir, e neles incluímos o tabagismo, a hipertensão arterial, a dislipidemia (colesterol elevado), a diabetes, a obesidade, a inatividade física, o stress e o consumo excessivo de álcool.
Já os fatores de risco não modificáveis, não são passíveis de intervenção. Falamos neste caso da idade, do género, da carga genética e da história pessoal e familiar de doença cardiovascular de cada paciente.
Percebe-se por isso, que toda e qualquer intervenção nos fatores de risco modificáveis, tem consequências importante na redução da mortalidade e morbilidade das pessoas. A redução e ou irradicação de qualquer um destes fatores de risco, produz uma diminuição significativa do risco de Enfarte Agudo do Miocárdio e de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC).
Fortemente associado a estes fatores de risco está a doença coronária (oclusão total ou parcial dos vasos sanguíneos que irrigam o musculo cardíaco). É ela a responsável pelos enfartes agudos do miocárdio, que acontecem quando a quantidade de sangue que chega ao musculo cardíaco não é suficiente para manter a adequada perfusão do próprio musculo. Estima-se que em Portugal, cerca de 12.000 enfartes ocorram por ano, sendo por isso facilmente percetível a necessidade e importância de controlar e reduzir ao máximo todos os fatores de risco que possam contribuir para esta patologia.
Os AVC acontecem quando existe uma hemorragia intracerebral (AVC hemorrágico) ou quando a perfusão sanguínea ao cérebro não é suficiente ou é totalmente interrompida (AVC isquémico). Sabemos hoje que o AVC é a principal causa de morte em Portugal, que a cada segundo uma pessoa sofre um AVC no mundo e que a cada 6 segundos o AVC é responsável pela morte de alguém, sendo por isso fundamental, mais uma vez, o controlo e redução de todos fatores de risco.
A modificação, controlo e redução dos fatores de risco cardiovascular é um dos grandes alvos de trabalho da Medicina Interna.
A capacidade do Internista em avaliar o doente como um todo, abordando várias problemáticas em simultâneo e recomendando mudanças no estilo de vida e/ou implementando terapêuticas são a pedra basilar nesta temática.
É imperativo que se produzam mudanças no estilo de vida, que sejamos mais ambiciosos e criteriosos no controlo de todos estes fatores (tabagismo, hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes, obesidade, inatividade física, stress e consumo excessivo de álcool) de modo a ganhar anos de vida de qualidade e reduzir a mortalidade diretamente ligada a estas patologias.




